terça-feira, 2 de março de 2010

A TRAPAÇA

Este esquete deixo disponível a qualquer grupo teatral que estiver disposto a encená-lo. Para tanto, basta entrar em contato comigo pelo e-mail zedocafundo@bol.com.br ou pelo telefone 25243327.
Personagens: Vovó Vida, Senhora, Duas Almas, Vovô Nenê, Feirante.

(Vovó Vida está deitada dormindo. Senhora vem ter com ela).
Senhora - Vovó Vida, acorda, porque vim te buscar!
(Vovó Vida acorda, estremunhada e assustada).
Vovó Vida - Não, você?! Vai embora, que não quero nem li ver!
Senhora - Eu, ir embora? Nem morta, que quem irá morta será você, que chegou sua hora... Quiá, quiá, quiá, quiá!!!
Vovó Vida - Clemência, Senhora, eu não quero ir... Não quero! (faz ela num tom de voz suplicante e obstinado).
Senhora - Como não quer ir? Mas é preciso! Você terá que vir, quer queira sim, quer queira não e pronto! (replica a senhora, autoritariamente).
Vovó Vida - Não é à toa que meus pais me dertam o nome de Vida, que gosto tanto de viver...
Senhora - E eu não sei disso? Mas o fato é que estou pouco me lichando, porque você não poderá ficar pra semente. Terá que vir comigo e pronto!
Vovó Vida - Não... não podemos fazer um trato, Senhora? (Balbucia ela).
Senhora - Trato, que tratro?
Vovó Vida - Três dias é o tempo que lhe peço pra que eu possa satisfazer a vontade de comer algo que nunca comi; mas, que morro de vontade, ops, quer dizer, vivo cheia de vontade de comer e nunca pude.
Senhora - Mas não me diga, vovó! Neste caso a coisa munda completamente de figura... Eu jamais levaria você sabendo que seu último desejo não foi realizado. O que quê você deseja comer, Vovó?
Vovó Vida - Caviar!
Senhora - Caviar, uauuu!!! Que coisa mais chique, Vovó! Você não é fraca não, hem? Pra lhe dizer a verdade até eu tenho essa vontade; mas sabe como é, né? Com esse salariozinho mixuruco que ganho, não dá mesmo pra comprar, que ele está custando o olho-da-cara, né?
Vovó Vida - Eu que o diga! Acredito na Senhora! Mas e então, estamos combinadas?
Senhora - Sim! Estamos!
Vovó Vida - Ah... Antes de que me esqueça eu quero ressaltar uma cláusula importante de nosso contrato. A Senhora só poderá me levar durante a noite, quando eu estiver dormindo, exatamente daqui a três noites. Caso a Senhora passe do prazo, terá que adiar minha ida para lá, tá legal?
Senhora - Mas por que essa exigência agora?
Vovó Vida - Porque tenho pavor de partir com a Senhora. Só de pensar até me borro toda!
Senhora - Tá explicado! Por isso que desde que cheguei aqui tô sentindo um fedorzinho desagradável. Tudo bem... Farei como você pede, vovó borradeira. Techauzinho!
Vovó Vida - Techau!(Sorrindo, fazendo, em seguida, pelas costas da Senhora, uma careta, mostrando-lhe a língua e dando-lhe uma banana).
(Vovó Vida se apronta, pega o carrinho de feira, vai à feira).
Feirante - Óia as bananas, as mangas e os pêssegos, freguesa!
Vovó Vida - Quanto que é a dúzia de bananas, meu filho?
Feirante - Pra senhora, que é uma freguesa loira, bonita e simpática, "dois real e cinquenta"!
Vovó Vida - Putis grilo! Tud`isso! Sou loira bonita, né? Mas não sou burra não, meu filho! Mete a faca; mas mete devagar, tá bom? Deixa-me ver se essas bananas são boas mesmo.
( Ela pega uma banana e a come, joga a casca no chão. A Senhora chega por trás dela, bate a mão no seu ombro, trazendo consigo duas almas amarradas).
Senhora- E aí, Vovó! Que quê você tá fazendo aqui na feira?
Vovó Vida - Vim fazer umas comprinhas básicas!
Senhora - Mas pra que quê você tá fazendo compras se depois de amanhã eu vou te levar?
Vovó Vida - Ora bolas! Sei lá! Mi deu vontade, pô!
Senhora - A única coisa que você precisa comprar é caivar, mas pelo que sei aqui não vende!
Vovó Vida - Não quero ser descortês contigo; mas vou te dizer uma coisa - você é chata pra caramba, hem? Vê se me erra e venha me procurar somente daqui a duas noites. (faz ela, empurrando a Senhora, mandando-a embora. As duas almas fazem sinal de positivo , dando o maior apoio à Vovó Vida. A Senhora sai furiosa, pisa a casca de banana e cai. As almas caem na gargalhada, zombando da Senhora).
Senhora - Que merda! Tá cada vez mais difícil exercer esse meu ofício. Ninquém mais me respeita. E vocês, por que estão rindo? Não sou palhaça não! (Ela, meio que aparvalhada, tropeça e cai novamente, provocando novas gargalhadas e saem de cena. Vovó Vida também sai de cena, entra o marido dela).
Vovô Nenê - Ah! que preguiça! Véia, ô minha véia! Cadê você?
Vovó Vida - Tô aqui, meu véio! Que quê você quer? (Faz ela entrando em cena)
Vovô Nenê - Que você ligue a televisão pra mim!
Vovó Vida - Nenê, Nenê! Você tá muito preguiçosinho! Você tem que se mexer, que assim não dá, meu véio.
(Vovô Nenê começa a palapar o corpo).
Vovó Vida - Que quê você tá fazendo?
Vovô Nenê - Ué, você não mandou que eu me mexesse, pois então eu tô me mexendo.
Vovò Vida - Tolinho! Só você mesmo...To falando de sair, curtir a vida...
(Ela aproxima-se de Vovô Nenê, dá-lhe um beijo e acaricia-lhe os cabelos).
Vovó Vida - Você se lembra quando nós nos conhecemos? Era tão bom... Você me levava aos bailes todos os finais de semana, a gente dançava uma música após a outra.
Vovô Nenê - Sim, minha véia, mas naquele tempo eu não tinha essa artrose dos diabos que tá quase me matan`.
Vovó Vida - Psssssiu! (Exclama ela, pondo a mão na boca de Vovô Nenê). Não fala nela, que`ela pode escutar e vir me amolar...
Vovô Nenê - Nela quem, minha véia?
(A Senhora entra em cena, aproxima-se de Vovó Vida, puxando duas almas, que estão amarradas com uma corda).
Vovó Vida - Xiiii! Não li falei! É daquela péla-saco que eu tava falando! (Diz ela sussurando, apontando o dedo para a Senhora).
Vovô Nenê - Ela quem, que não tô vendo ninguém?
Senhora - Ah! meu Deus, além de véio é cego! Fala pra esse teu véio saí daqui, antes que resolvo levar ele primeiro que você.
Vovó Vida - Vai, meu véio, na cozinha buscá um copo de água bem gelada pra mim!
(Vovô Nenê sai)
Senhora - E, então, já comprou o caviar? Se não comprou é bom comprar, que o tempo urge, Vovó. E amanhã mesmo tendo choro e vela você haverá de vir comigo!
Vovó Vida - Amanhã, será amanhã! E quer saber de uma coisa? Você está começando a me dar nos nervos!
(Vovô Nenê traz o copo de água, dá à mulher).
Senhora - Tô li dando nos nervos, é? E o que quê você vai fazer, hem, meu bem?
Vovó Vida - Isso! (faz ela, jogando-lhe água na cara. As duas almas riem a bandeiras despregadas. Uma delas chega até a cair no chão). - Passa daqui, que a porta da casa é a serventia, e só me apareça aqui amanhã à noite, quando eu estiver dormindo. Não se esqueça de que esse foi o nosso trato.
(A Senhora se retira, dando alguns espirros, puxando as duas almas pela corda, que não param de zombar dela pelas costas, fazendo gestos de que ela se deu mal. As luzes se apagam, quando elas reacendem, Vovó Vida está se aprontando para sair. A Senhora vem ter novamente com ela).
Senhora - Já são vinte e uma horas! (Atichim!, espirra) - Por que não foi pra cama dormir, (atichim) confortme nós combinamos?
Vovó Vida - Ora, porque não tõ com sono! E quer saber de uma coisa? Hoje não vou dormir. Que quê aconteceu? Você parece que tá gripadinha?
Senhora - Tô sim, e por sua culpa, que me jogou aquele maldito copo de água gelada na cara. Mas, voltando ao nosso assunto, você tem que dormir, porque foi o que combinamos.
Vovô Vida -Puxa vida! Ficou doentinha, é? Tadinha! Tô morren`, quer dizer, tô cheinha de pena de você.
Senhora - Fingida, dissimulada! Pensa que eu não sei? Você tá mais é querendo que eu me exploda. Mas deixa de conversinha-mole e vai dormir, conforme nós combinamos.
Vovó Vida - Combinamos coisíssima nenhuma! Eu não disse que iria dormir; mas sim, que você só me levaria caso eu estivesse dormindo. Como não estou com sono, eu vou é pra balada com meu véio. Nenê, meu amor, tô pronta! Vamos!
(Nenê entra em cena, todo arrumado, dá-lhe o braço, cavalheiramente).
Vovô Nenê - Vamos, querida!
Vovó Vida - Vamos que a vida nos chama!
Senhora - Quer dizer que (Atichim) aquela história de caviar era tudo tapeação?
Vovó Vida - Quiá, quiá, quiá, quiá! Se era, minha filha! E você caiu que nem uma patinha. E você quer saber, esse taL de caviar é coisa pra burguês e pobre metido à besta. Prefiro mil vezes um vatapá ou então um acarajé!
Senhora - Você me enganou, Sua traiçoeira! Grarrrrrr!!! Ah! que ódio! (faz ela rangendo os dentes, cerrando os punhos, dando em seguida outro espirro).
Vovó Vida - Ah! sim! Quem avisa amiga é! Por isso, vai logo tratar desse resfriado, senão ele pode virar um peneumonia e te matar.
(Fecham-se as cortinas)

Nenhum comentário:

Postar um comentário