sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

NAUFRÁGIO

Um dia tive por companheira a solidão.
Não me preocupei, não me desesperei
Não gritei impropérios contra a lei
Invisível, inexorável que rege o universo.
Tampouco, desesperado, saí
Procurando a companhia de alguém
A quem pudesse chamar de meu bem.
Tempos... mais tempos e mais tempos, daí
Te vi, te quis, tu me quiseste...
Assim, tão simples assim
Naquele dia sorriste e me disseste sim...
Assustada, minha solidão se diluiu
Ou talvez naufragou no rio
Caudaloso, tempestuoso
Do amor que você me deu.

PALADINA JUSTICEIRA

Putis grilo, como são chatos a maioria dos filmes que exibem na tevê aberta. Só muda os nomes deles, que o enredo quase sempre é o mesmo - o heroi bam-bam-bam fodidão, que extermina todos os bandidos, dá as costas e sai, incólume, deixando para trás um rastro de destruição enquanto tudo explode, espalhando labaredas para todos os lados. Ou então, filmezinhos chumbregas de terror de última categoria, que tem sempre um maníaco alucinado, que mata todo mundo de forma bárbara e cruel, para que os telespectadores vejam muito sangue.
Antes de assistir à tevê à cabo, achava que ela fosse melhor, mais educativa e lúdica, uma vez que para se ter acesso a ela a pessoa tem que pagar; mas, que nada. Em verdade, o que muda nela é a disponibilidade de um número maior de canais. Consequentemente, aumenta também a quantidade de programas ruins. Raramente, os norte-americanos produzem um filme, cuja mensagem seja positiva, que traz esperança para todos. À exceção de uns poucos filmes aos quais assisti do diretor "Esteven Espielberg" acerca de ETs, os alienígenas são sempre retratados como seres bárbaros e crueis, que vêm a Terra para nos destruir e tomarem o planeta. Admitindo que os ETs existam, não creio que eles sejam tão maus assim, que para se viajar através do espaço sideral há que se ter um conhecimento científico avançadíssimo. Seres que alcançaram um estágio evolutivo tão grande, não podem ter um espírito tão primitivo. Caso contrário, seria um grande contra-senso.
Dia desses liguei o televisor. À medida que mudava de um canal para o outro, vi um título de um filme que estava sendo exibido, num determinado canal, que se chamava "Menina Má", sei eu lá mais das quantas... A película já havia começado a alguns minutos; mas pelo que entendi a tal Menina Má tinha conhecido via Internet um rapaz, com quem ela se encontrou. O sujeito era um fotógrafo profissional. Ela e ele se achavam na casa dele, sendo que este estava amarrado. Ela o acusava de pedófilo. Ele negava, enquanto ela procurava por toda a casa fotos de crianças nuas, que ela supunha que o rapaz havia tirado. Revirou todos os lugares possíveis e impossíveis à procura dos retratos e não os encontrou.
Depois de algum tempo, acabou descobrindo um cofre no chão, oculto por uma camada de pedras. Contudo, o fotógrafo recusava a lhe dizer a combinação dos números, que abriam o cofre. Por deduções lógicas, acabou descobrindo e o abriu. Tcham, tcham, tcham... E lá estava o que ela procurava. De posse da prova cabal de que ele era realmente um pedófilo, disse ser filha de um médico, que havia pegado um livro de medicina, que ensinava passo a passo o processo cirúrgico para se fazer uma castração. O rapaz se achava nu, amarrado sobre uma mesa. Aí ela pôs um saco de gelo na região a ser operada. O moço chorava, implorando que ela não fizesse aquilo. Ofereceu dinheiro e tudo mais que ela quisesse; ela, irredutível. Ele chegou a contar que aos nove anos de idade foi passar alguns dias na casa de uma tia. Ela tinha uma filhinha de seis anos, que gostava muito de ele. Sempre que iam tomar banho, ela o ensaboava todinho, ficava montada sobre ele, rindo muito. Certa vez, ou melhor, errada vez, eles foram surpreendidos pela tia. Ela acendeu o fogão, até que os bocais por onde saem as chamas ficassem quentes e fê-lo assentar num de eles.
- Acha mesmo que essa historinha lhe redime, pedófilo? Não, de jeito e maneira. Prepare-se que vou lhe capar.
Em seguida, ela telefonou chamando a Polícia, a ex-namorada do rapaz e entrou no banheiro para tomar banho. Entretanto, o rapaz conseguiu se safar das amarras que o prendiam à mesa, constatou que ela não o castrara, que tudo não passou de um blefe. Ele apanhou uma faca, foi ao banheiro. Ao vê-lo, ela correu para fora da casa, subiu no telhado. Quando ele foi ter lá também, ela apontou um revólver para ele. Havia uma corda atada em cima do telhado. Ela o mandou passar a corda no pescoço e pular para se enforcar. Nisto, a ex-namorada dele chegou. Tocou a campanhia, chamou e ninguém atendia. Ela adentrou a casa, deu com a foto dela na parede, ladeada por várias fotos das crianças que foram vítimas do ex-namorado pedófilo. Ao ouvir a sirene do carro da Polícia, o rapaz pôs a corda no pescoço... pulou! a cena seguinte, mostrava a Menina Má voltado pra casa dela, como se nada houvesse acontecido. Que maravilha de filme, não! Quem é mais doente, o pedófilo ou a paladina justiceira? Difícil definir, né?
Ao cair da noite daquele mesmo dia, fui ao quarto da Lelé. Ela assistia ao filme "Quatrocentos Contra Um". Nem vou narrar o enredo todo do filme, que ser-me-ia enfadonho, pois o recheio principal dele era o crime e a violência nos presídios. Mediante a tudo isso que escrevi, chego à conclusão que a Sétima Arte espelha a realidade do cootidiano humano. Somente quando os mansos de espírito herdarem a Terra, a violência não será mais inspiração para os ficcionistas. Daí, ao invés do cinema exibir lágrimas, exibirá sorrisos e ternura entre as pessoas.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

PASSARINHO ME CONTOU

Não, não acredito! Será mesmo verdade que, o Homem que abria a Porta da Esperaça, que é o dono do Baú da $ felicidade, foi passado para trás... Difícil imaginar o Sr. Abravanel a nenhum, vendendo o almoço para comprar o jantar..."Passarinho me contou que iss`é conversa pra boi dormir"... Imagina! Ainda que ele tenha caído no conto do vigário, Passarinho me disse que ele continuará sorrindo e perguntando à platéia nas tardes de domingo:
- Quem qué dinheiro? Ahhhhhuuu, ahaaaiiii!
Certamente, afirma o Passarinho, ele tem muitas divisas no estrangeiro, que não estão ao alcance dos golpistas, porque ele não é bobo nem nada. Assim sendo, quiçá, depois que o todo-poderoso Sr. Abravanel partir desta vida, ele conhecerá a pobreza, descobrindo que "Lá do Outro Lado", muita vez, quem foi o maior aqui, será o menor lá. Daí, neste dia, haverá muito choro e ranger de dentes...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

VELHARIAS

Velharias, histórias de um tempo que ficou para trás; mas que nunca me esqueço. Quando tinha uns três ou quatro anos, minha mãe me disse que eu deveria me chamar Abelardo; mas meu pai não me registrou com esse nome. Fiquei desapontado com ele, porque achava o nome Abelardo mais bonito que o meu. Além disso, tinha um tio de quem eu gostava muito que se chamava assim.
Velharias... tempos difíceis aqueles sobretudo para crianças, adolescentes e mulheres. A organização familiar nuclear ainda era totalmente regida pelo patriarcalismo. Criança e adolescente na maioria dos lares não podiam nem deviam dar opiniões, tomar parte na conversa de adultos, nem questionar as decisões paternas. Elas deveriam ser acatadas pelos filhos, senão eles teriam direito de obrigá-los a isso, fazendo uso da cinta e, em alguns casos, até mesmo do chicote. Velharias... episódios de uma época terrível, que ficaram retidos em minha memória, que não gosto nem de lembrar.
Eu, como já supra disse, adorava tio Abelardo e a Tia Camila. Eles, sempre que vinham nos visitar, tratavam meus irmãos e eu com muita amabilidade. Era, por assim dizer, uma verdadeira festa em nossa casa todas às vezes que os recebíamos. O melhor de tudo é que nunca se esqueciam de trazer doces para nós, sobrinhos. Morávamos num sítio. Excetuatuando essas raras ocasiões eu e meus irmãos não tínhamos a oportunidade de saborearmos aquelas guloseimas compradas na cidade. Ah! como eu gostava de chupar um pirolito vermelhinho que eles me davam, cujo formato era de um apito.
A julgar pela maneira carinhosa que titio Abelardo nos tratava, sempre muito calmo, conversando num tom pausado, sem nunca se exaltar, jamais imaginava que no recesso de sua família ele pudesse ser, digamos assim, um monstro para com os seus... Certa vez, vieram ao sítio nos visitar, pediram a meus pais que deixassem levar-me para passar alguns dias na companhia deles. O pedido foi concedido. A princípio fiquei feliz. Contudo, ao chegar à residência deles, eu, que não estava acostumado a ficar longe dos meus, queria porque queria tornar a casa. Mas o carinho de minhas duas belas primas, somado aos pirolitos de apito que me deram me fizeram mudar de ideia.
Juliana, a minha prima mais velha, já estava se tornando adolescente. Tinha pele sedosa e trigueira, cabelos compridos e negros, olhos grandes, lânguidos e brilhantes. Próximo ao lábio superior, uma pintinha preta, que lhe caía muito bem. Em verdade, ela deveria ser uma verdadeira tentação para os rapazes, provocado neles muitas poluções noturnas.
Pouco a pouco, fui me acostumando a conviver com eles que nem pensava mais em voltar pra casa. Titio abatia bois e os vendia para os açougues. Numa manhã, Juliana me levou ao abatedouro. Fiquei chocado quando vi titio abater um boi. Lembro-me ainda que me deram a bexiga do boi para eu brincar; mas acho que a recusei.
Numa tarde eu brincava na sala. Súbito, titio abelardo irrompeu casa adentro, trazendo Juliana de arrasto pelo braço, proferindo uma torrente de palavras de baixo-calão.
- Sua cadela sem-vergonha, eu já te disse que não quero ver você agarrada com esses pilantras safados, que andam por aí. Puta vagabunda! Pera lá que já te mostro uma coisa...
- Não, pai, não pai! Eu não faço mais isso! Ai, pai, não me bate!
De balde as súplicas dela. Ele a levou para o quarto, debaixo de cintadas, onde terminou o serviço... E que serviço! A pobre coitada ficou com as pernas, costas e nádegas cheias de vergões. Depois, ainda deitou salmoura nas feridas, o que fez minha pobre prima urinar nas pernas de tanta dor. Mediante aquela cena violenta, fiquei terrificado, querendo voltar pra casa na mesma hora, temendo que o monstro me batesse também. Velharias... monstruosidades que se cometiam apenas dentro do âmbito familiar e tudo em nome da boa educação.

HAY KAY

Bem, no seu reinado
O grã Rei não se fita...
Ou a visão, blau-blau...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

MULHER FRUTALÍCIA

Dentre todas as mulheres,
Você é a que mais quero.
Olhe, não estou com lero-lero,
Pois sou mui sincero.

É mui bom ter-te sempre a meu lado:
Na praia, numa festa, na cama...
Vamos! m`abraça, m`inflama,
C`a sua chama...

Mulher frutalícia,
minha grã delícia,
Que me faz delirar,
Qual lobo fitando luar...

Uuuuuuuuuu!!! Uuuuuuuuuu!!! Uuuuuuuuuu!!!
É vuco, vuco, vuco...
Menina travessa,
que bole comigo!

Hoje vou te amar
Na tarde, nua
Usando somente as vestes
De tua formosura singular.

domingo, 14 de novembro de 2010

BASTIÃO CULTURAL

Tem, tem sim - tem lugares que deveriam dar apoio à cultura, mas não dão; outros,que dizem apoiá-la; mas, em verdade, querem é lucro e, nada mais. Certa vez, pedi ao coordenador da Biblioteca Vicente de Carvalho que me cedesse um espaço para que eu organizasse um recital de poesia, uma vez por mês. O sujeito me disse que não dependia somente de ele, que iria pedir altorização aos seus superiores. Se pediu, eu não sei; mas até hoje o espaço não me foi cedido. Há no Brás um bar bem legal, no qual é feito um sarau a cada 15 dias. O lugar é simples; mas mui acolhedor. Lá há espaço pra qualquer forma de expressão artística, desde que esta seja original. Por exemplo, ontem, dia 13/11/10, eu e a Lourdinha nos apresentamos no referido estabelecimento. Encenamos a primeira cena de nossa peça, A Descoberta. Foi muito gratificante. Os assistentes não eram muitos; mas conseguimos prender a atenção destes durante o tempo todo. Houve até um comentário de uma mulher, que conseguiu se identificar com a personagem Arminda, representada por Lourdinha. Ao término, fomos muito ovacionados, tal e qual se houvéssemos feito a encenação num teatro. São lugares como aquele que nos incentivam a continuar produzindo arte. Digamos assim: lá é um verdadeiro bastião da cultura, cujas portas estarão sempre escancaradas pra receber a CULTURA.