segunda-feira, 22 de março de 2010

CABEÇA-DE-BRAGRE

Vi uma cena hilária, para não dizer, estúpida... O sujeito tinha aparência troglodita. Chegou à porta de um bar. Havia um cachorro velho deitado à entrada do estabelecimento. Este levantou-se, ficou ladrando para o sujeito. O indivíduo, de modos abrutalhados, tem corpo semelhante a um guarda-roupa. Certamente, o velho cão estava ladrando apenas para dizer a ele, que naquele território, por mais difícil que seja de alguém acreditar, ele ainda tomava conta dele. Dificilmente ele o morderia, uma vez que este tem dificuldade até para comer um pãozinho. Assim sendo, certamente, não correria risco de atacar aquele enorme guarda-roupa ambulante e acabar levando a pior.
O sujeito, porém, que deve ser um tremendo dum bunda-mole daqueles que só tem tamanho e sem-vergonhice, pegou um cone, que é usado para delimitar o lugar permitido para que os motoristas estacionem os automóveis,ameaçou bater no cão com ele. O dono do estabelecimento raiou com o cachorro, este permitiu que o troglodita adentrasse o bar. Após beber, acho que um rabo-de-galo, saiu.
O cão novamente pegou a ladrar, numa falsa atitude de que iria atacá-lo. Sabem o que o indivíduo fez? Pasmem! Sacou de um revólver, apontou para o cão. fiquei sem entender quem era menos racional, se o cão ou aquele troglodita. Sim, porque ameaçar uma pessoa com um revólver é uma coisa, visto que tal tem consciência do perigo que a arma representa. Mas ameaçar um animal? Que absurdo! Só posso concluir disso uma coisa - tal sujeito deve ter merda na cabeça ao invés de cérebro; porque não passa de um cabeça-de-bagre.

sexta-feira, 19 de março de 2010

O APITO SALVADOR

Nasci numa época em que tudo inspirava o fantástico - telenovela, Saramandaia, tele-seriados,Capitão Márvel, e as conversas em volta da fogueira, que quase sempre eram de lendas urbanas, como, por exemplo, A Loura do Banheiro.
Eu tinha oito anos, filha única, bajuda e paparicada pelos meus pais e, principalmente, pelos meus avós. Minha imaginação, bem-adubada por todas aquelas estórias que ouvia,era mui fértil.
Certa noite, ispirada pela estória da Loura do Banheiro, decidi dar um tremendo susto em minha mãe. Sorrateiramente, adentrei a cozinha, apanhei no armário uma caixa de maizena. Eu havia vestido uma camisola branca, maquiado uma mancha preta em torno dos olhos. Com um batom vermelho, tinha traçado alguns riscos, que desciam pelos meus lábios, dando a impressão que minha boca e o nariz sangravam. Depois coloquei na boca presas de vampiro, daquelas em forma de prótese. Para completar o fantasmagórico figurino, joguei maizena no rosto, fui para o banheiro.
Assim que mamãe entrou para tomar banho, abriu a divisória, deu de cara comigo. Emiti um pavoroso gemido, semelhante ao das almas-penadas. Ela arregalou os olhos, recuou dando um grito estridente de pavor, que senti até dor nos ouvidos.
- Ahhhhhhhhhhhh... Eu vou te pegar! Ahhhhhhhhhhhhhh...
- Cruz-credo! Valha! meu Deus! Que coisa horrorosa! - fez ela saindo às carreiras do banheiro.
Vez por outra, devido às minhas peraltices, mamãe me dava algumas palmadas. Eu ia chorar as pitangas para meu avô. Ele havia me dando um apito e me dissera que em caso de minha mãe querer me bater, era só eu apitar que ele viria me proteger.
Naquele dia, passado o susto, quando mamãe se dera conta de que o fantasmagórico vampiro era eu, em carne e osso, resolveu me dar um corretivo. Ela sai atrás de mim, num pega-não-pega dos diabos. Desesperada, lembrei-me do apito. À medida que corria, apitei várias vezes, na esperança que vovô viesse me socorrer. E vocês pensam que o velho veio? Que nada!
Minutos depois, ainda sentindo o bumbum ardendo devido às palmadas que levei, fui ter à casa dele. Encontrei-o bem folgado, estirado numa rede:
- Vovô, por acaso o senhor é surdo?
- Não, querida! Por quê?
- Ora, pois está parecendo que o senhor é surdo sim! Será possível que o senhor não me ouviu apitando, correndo desesperada pra me livrar da mamãe, e o senhor aqui deitado nesta rede dormindo sossegado. Faça-me o favor, né, vovô! Quer saber de uma coisa? Estou de mal com o senhor! - repliquei fazendo um muxoxo.
- Quiá, quiá, quiá, quiá! Não fica zangadinha, não, meu bem! Diga-me quem é a menina mais bonita deste bairro?
Eu me fiz de mouca, nada respondi!
- Ah! não quer dizer! Já sei... É uma menina que mora lá longe, perto do supermecado!
- Não é não, Seu bobo! Sou eu a menina mais bonita deste bairro! - repliquei cheia de empáfia.
Daí, vovô me abraçou, me beijou e a dor de meu bumbum passou e eu já estava pronta para outra...

terça-feira, 9 de março de 2010

PORRE

Existem pessoas que se julgam um dicionário ambulante, que conhecem todas as regras gramaticais, que jamais cometerão um deslize gramatical, tão comum no dia-a-dia dos simples seres humanos mortais. É um porre conviver com pessoas assim, que basta alguém dizer algo fora dos padrões da meta linguística da língua portuguesa que tal já pergunta num tom professoral:
- Que quê foi mesmo que você disse? Não se diz assim; mas assado e bla, bla, bla, bla...
Eu mesmo tenho um amigo assim. Ele tem horas que... enche... Certa feita, estávamos em um bar que ele tinha, chamado Bebê Cultura. Um dos circunstantes saudou uma mulher recem-chegada, dizendo que a havia visto em uma feijoada. Pronto! Não faltou mais nada para o camarada armar o circo:
- Então você viu ela na feijoada? Que parte que ela era - os pés, o rabo, ou a carne-seca? Quiá, quiá, quiá, quiá?
Até hoje ele continua achando que o sujeito cometeu um erro imperdoável, ao dizer que havia visto a mulher na feijoada. Eu, particularmente, não acho, porque entendi perfeitamente o que ele quis dizer. Mas fazer o quê, né? Tem pessoa que só entende o que quer entender...
De uma outra vez, eu me encontrava com aquele mesmo amigo dono do extinto Bebê Cultura. Mostrei a ele um livro de minha autoria, Se Você Sofre... Meus Parabéns! Ele começou a ler um dos contos do livro. Então ele se deparou com uma frase que dizia que a personagem tinha a nítida impressão que...
- Nítida impressão? - fez ele.
- Sim! - disse eu.
- Pois está errado, que o jeito certo de escrever é nítida imprenssão!
E o pior é que naquela hora cheguei a pensar que ele tinha razão. Depois, porém, consultei o dicionário e só então percebi que o "dicionário ambulante" registrava equivocadamente a maneira certa de grafar a plavra impressão.
A meu ver é raro quem não comete erros de gramática, uma vez que a língua portuguesa é muito complexa. Acho até uma besteira essa implicância que alguns têm com as pessoas mais simples, que não conseguem se expressar de acordo com as regras da língua padrão. Até mesmo porque quando alguém diz alguma coisa, normalmente atinamos o sentido do que este alguém quis dizer, independente dos erros de concordância verbal, nominal, numeral ou pronominal.
Agora o que me é difícil admitir são os erros contidos nos anúncios direcionados ao público, que muitas vezes são oriundos de importantes companhias, qual ao da CPTM (Companhia de Trens Metropolitanos) em razão dos transtornos causados por uma obra:
Desculpe o transtono!
Depois, não querem que o povo se expresse errado. Poupe-me o transtorno.

terça-feira, 2 de março de 2010

A TRAPAÇA

Este esquete deixo disponível a qualquer grupo teatral que estiver disposto a encená-lo. Para tanto, basta entrar em contato comigo pelo e-mail zedocafundo@bol.com.br ou pelo telefone 25243327.
Personagens: Vovó Vida, Senhora, Duas Almas, Vovô Nenê, Feirante.

(Vovó Vida está deitada dormindo. Senhora vem ter com ela).
Senhora - Vovó Vida, acorda, porque vim te buscar!
(Vovó Vida acorda, estremunhada e assustada).
Vovó Vida - Não, você?! Vai embora, que não quero nem li ver!
Senhora - Eu, ir embora? Nem morta, que quem irá morta será você, que chegou sua hora... Quiá, quiá, quiá, quiá!!!
Vovó Vida - Clemência, Senhora, eu não quero ir... Não quero! (faz ela num tom de voz suplicante e obstinado).
Senhora - Como não quer ir? Mas é preciso! Você terá que vir, quer queira sim, quer queira não e pronto! (replica a senhora, autoritariamente).
Vovó Vida - Não é à toa que meus pais me dertam o nome de Vida, que gosto tanto de viver...
Senhora - E eu não sei disso? Mas o fato é que estou pouco me lichando, porque você não poderá ficar pra semente. Terá que vir comigo e pronto!
Vovó Vida - Não... não podemos fazer um trato, Senhora? (Balbucia ela).
Senhora - Trato, que tratro?
Vovó Vida - Três dias é o tempo que lhe peço pra que eu possa satisfazer a vontade de comer algo que nunca comi; mas, que morro de vontade, ops, quer dizer, vivo cheia de vontade de comer e nunca pude.
Senhora - Mas não me diga, vovó! Neste caso a coisa munda completamente de figura... Eu jamais levaria você sabendo que seu último desejo não foi realizado. O que quê você deseja comer, Vovó?
Vovó Vida - Caviar!
Senhora - Caviar, uauuu!!! Que coisa mais chique, Vovó! Você não é fraca não, hem? Pra lhe dizer a verdade até eu tenho essa vontade; mas sabe como é, né? Com esse salariozinho mixuruco que ganho, não dá mesmo pra comprar, que ele está custando o olho-da-cara, né?
Vovó Vida - Eu que o diga! Acredito na Senhora! Mas e então, estamos combinadas?
Senhora - Sim! Estamos!
Vovó Vida - Ah... Antes de que me esqueça eu quero ressaltar uma cláusula importante de nosso contrato. A Senhora só poderá me levar durante a noite, quando eu estiver dormindo, exatamente daqui a três noites. Caso a Senhora passe do prazo, terá que adiar minha ida para lá, tá legal?
Senhora - Mas por que essa exigência agora?
Vovó Vida - Porque tenho pavor de partir com a Senhora. Só de pensar até me borro toda!
Senhora - Tá explicado! Por isso que desde que cheguei aqui tô sentindo um fedorzinho desagradável. Tudo bem... Farei como você pede, vovó borradeira. Techauzinho!
Vovó Vida - Techau!(Sorrindo, fazendo, em seguida, pelas costas da Senhora, uma careta, mostrando-lhe a língua e dando-lhe uma banana).
(Vovó Vida se apronta, pega o carrinho de feira, vai à feira).
Feirante - Óia as bananas, as mangas e os pêssegos, freguesa!
Vovó Vida - Quanto que é a dúzia de bananas, meu filho?
Feirante - Pra senhora, que é uma freguesa loira, bonita e simpática, "dois real e cinquenta"!
Vovó Vida - Putis grilo! Tud`isso! Sou loira bonita, né? Mas não sou burra não, meu filho! Mete a faca; mas mete devagar, tá bom? Deixa-me ver se essas bananas são boas mesmo.
( Ela pega uma banana e a come, joga a casca no chão. A Senhora chega por trás dela, bate a mão no seu ombro, trazendo consigo duas almas amarradas).
Senhora- E aí, Vovó! Que quê você tá fazendo aqui na feira?
Vovó Vida - Vim fazer umas comprinhas básicas!
Senhora - Mas pra que quê você tá fazendo compras se depois de amanhã eu vou te levar?
Vovó Vida - Ora bolas! Sei lá! Mi deu vontade, pô!
Senhora - A única coisa que você precisa comprar é caivar, mas pelo que sei aqui não vende!
Vovó Vida - Não quero ser descortês contigo; mas vou te dizer uma coisa - você é chata pra caramba, hem? Vê se me erra e venha me procurar somente daqui a duas noites. (faz ela, empurrando a Senhora, mandando-a embora. As duas almas fazem sinal de positivo , dando o maior apoio à Vovó Vida. A Senhora sai furiosa, pisa a casca de banana e cai. As almas caem na gargalhada, zombando da Senhora).
Senhora - Que merda! Tá cada vez mais difícil exercer esse meu ofício. Ninquém mais me respeita. E vocês, por que estão rindo? Não sou palhaça não! (Ela, meio que aparvalhada, tropeça e cai novamente, provocando novas gargalhadas e saem de cena. Vovó Vida também sai de cena, entra o marido dela).
Vovô Nenê - Ah! que preguiça! Véia, ô minha véia! Cadê você?
Vovó Vida - Tô aqui, meu véio! Que quê você quer? (Faz ela entrando em cena)
Vovô Nenê - Que você ligue a televisão pra mim!
Vovó Vida - Nenê, Nenê! Você tá muito preguiçosinho! Você tem que se mexer, que assim não dá, meu véio.
(Vovô Nenê começa a palapar o corpo).
Vovó Vida - Que quê você tá fazendo?
Vovô Nenê - Ué, você não mandou que eu me mexesse, pois então eu tô me mexendo.
Vovò Vida - Tolinho! Só você mesmo...To falando de sair, curtir a vida...
(Ela aproxima-se de Vovô Nenê, dá-lhe um beijo e acaricia-lhe os cabelos).
Vovó Vida - Você se lembra quando nós nos conhecemos? Era tão bom... Você me levava aos bailes todos os finais de semana, a gente dançava uma música após a outra.
Vovô Nenê - Sim, minha véia, mas naquele tempo eu não tinha essa artrose dos diabos que tá quase me matan`.
Vovó Vida - Psssssiu! (Exclama ela, pondo a mão na boca de Vovô Nenê). Não fala nela, que`ela pode escutar e vir me amolar...
Vovô Nenê - Nela quem, minha véia?
(A Senhora entra em cena, aproxima-se de Vovó Vida, puxando duas almas, que estão amarradas com uma corda).
Vovó Vida - Xiiii! Não li falei! É daquela péla-saco que eu tava falando! (Diz ela sussurando, apontando o dedo para a Senhora).
Vovô Nenê - Ela quem, que não tô vendo ninguém?
Senhora - Ah! meu Deus, além de véio é cego! Fala pra esse teu véio saí daqui, antes que resolvo levar ele primeiro que você.
Vovó Vida - Vai, meu véio, na cozinha buscá um copo de água bem gelada pra mim!
(Vovô Nenê sai)
Senhora - E, então, já comprou o caviar? Se não comprou é bom comprar, que o tempo urge, Vovó. E amanhã mesmo tendo choro e vela você haverá de vir comigo!
Vovó Vida - Amanhã, será amanhã! E quer saber de uma coisa? Você está começando a me dar nos nervos!
(Vovô Nenê traz o copo de água, dá à mulher).
Senhora - Tô li dando nos nervos, é? E o que quê você vai fazer, hem, meu bem?
Vovó Vida - Isso! (faz ela, jogando-lhe água na cara. As duas almas riem a bandeiras despregadas. Uma delas chega até a cair no chão). - Passa daqui, que a porta da casa é a serventia, e só me apareça aqui amanhã à noite, quando eu estiver dormindo. Não se esqueça de que esse foi o nosso trato.
(A Senhora se retira, dando alguns espirros, puxando as duas almas pela corda, que não param de zombar dela pelas costas, fazendo gestos de que ela se deu mal. As luzes se apagam, quando elas reacendem, Vovó Vida está se aprontando para sair. A Senhora vem ter novamente com ela).
Senhora - Já são vinte e uma horas! (Atichim!, espirra) - Por que não foi pra cama dormir, (atichim) confortme nós combinamos?
Vovó Vida - Ora, porque não tõ com sono! E quer saber de uma coisa? Hoje não vou dormir. Que quê aconteceu? Você parece que tá gripadinha?
Senhora - Tô sim, e por sua culpa, que me jogou aquele maldito copo de água gelada na cara. Mas, voltando ao nosso assunto, você tem que dormir, porque foi o que combinamos.
Vovô Vida -Puxa vida! Ficou doentinha, é? Tadinha! Tô morren`, quer dizer, tô cheinha de pena de você.
Senhora - Fingida, dissimulada! Pensa que eu não sei? Você tá mais é querendo que eu me exploda. Mas deixa de conversinha-mole e vai dormir, conforme nós combinamos.
Vovó Vida - Combinamos coisíssima nenhuma! Eu não disse que iria dormir; mas sim, que você só me levaria caso eu estivesse dormindo. Como não estou com sono, eu vou é pra balada com meu véio. Nenê, meu amor, tô pronta! Vamos!
(Nenê entra em cena, todo arrumado, dá-lhe o braço, cavalheiramente).
Vovô Nenê - Vamos, querida!
Vovó Vida - Vamos que a vida nos chama!
Senhora - Quer dizer que (Atichim) aquela história de caviar era tudo tapeação?
Vovó Vida - Quiá, quiá, quiá, quiá! Se era, minha filha! E você caiu que nem uma patinha. E você quer saber, esse taL de caviar é coisa pra burguês e pobre metido à besta. Prefiro mil vezes um vatapá ou então um acarajé!
Senhora - Você me enganou, Sua traiçoeira! Grarrrrrr!!! Ah! que ódio! (faz ela rangendo os dentes, cerrando os punhos, dando em seguida outro espirro).
Vovó Vida - Ah! sim! Quem avisa amiga é! Por isso, vai logo tratar desse resfriado, senão ele pode virar um peneumonia e te matar.
(Fecham-se as cortinas)