terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O RISFRIANDO

Er`um dia de firiado
Eu `tava mem``a toa.
Chico Mulatão propôis
Uma caçada das boa.
Saímo ca cachorrada.
Caí`uma fina garoa.

Os cães achar`uma pista
Dexada por um grâ tatu.
Saímo` n`encalço dele
No meio daquele matu.
Na frente tinh`u`arco-íris.
Nóis avistam`um caititu.

Esquecemo`até do tatu
Correm`atráis d`otra caça
Dano muitos tiro nela.
Mais pra nossa disgraça
A fina garo`engroçô
Transfromô numa chuvaça.

E nóis, que fomo caçá
Achamo só risfriado.
É... foi o dia da caça...
Agora,nos firiado,
Prifiro ficá na rede
A`rriscá pegá risfriado.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Seja Feita tua Vontade

É... eu estava ni sintino
Filiz pra de mais da conta
Pruque eu gostava muito
Do meu noiv`e tava pronta
Para mi casá co ele.
Eu ficava até tonta

Só di imaginá o titio
Co eu entra`na capela
De braço dado comigo.
Todos os dia uma vela
Pra Santantonh`eu cendia
Que pur mim sei qu`ele vela.

À midida que o casóro
Estava s`aproximano
Mamãe tav`intristeceno
Qu`eu vi`el`até lagrimano.
Que tá cunteceno, mamãe?
- Fiinha, li vi mamano

Cuidei d`ocê até hoje
Agora cê vai casá
Vai pra casa do seu marido.
Não quero li dá azá
Ca minha tristeza boba,
De viúva, que não quis casá;

Pra mió li cuidá;
Mas a solidão m`assusta.
- Confessô ela pra mim.
diss`a ela não s`assusta
Que co meu noivo vô falá
Sei que pra ele não custa,

Vim morá aqui com nóis.
Mamãe ficô exultante
Sabeno qu`ela não ia
Mais de mim ficá distante.
Cunversei com o Juvená
Longament`e mediante

Meus incaricidos rogo
disse que vinha morá
Ca gente quando casasse.
Fui na capela orá
Gradecê a Deus por tê dado
Esse moço bão pr`eu amá.

No dia do casamento
Mi aprontei, fiquei bela.
Na hora de nóis pô`as liança
O povaréu na capela
Ficô todo abobado
Que o noivo não tross`elas.

Disse que tinh`isquicido
Elas lá na casa dele.
Oxente! que faremo?
Priguntar`oiano pr`ele.
Brinadera, pessoá!
Prufiriu surrino ele.

Juvená bateu trêis palma.
Um pombo vei`avuano
Trazen`as duas liança.
O povo ficô`assuntano
Dimiran`aquela cena
Que durante muitos ano

Ninquém del`ia s`isquecê.
Não mi cabi`em mim de tanta
Aligria; mas dias depois
Vi no cimitéro tanta
Cova de criancinha lá
Que as pessoa nem s`espanta

Mais di vê aquela prova
Do descaso do pudê
Público, que não tá nem
Aí para arresolvê
O grã probrema da fome.
Será que não tem quem dê

Jeito nisso, meu Bom Deus?
Er`o qu`eu mi priguntava
Naquela hora, chegano
Na cova onde estava
Interrado Miguelin`,
Pertin`da que papai tava.

Chorano de sauda`deles
Cendi u`a vela e rezei
Um Pai-Nosso com mui fé
Pr`almas deles, que bem sei
Que está no Céu cos anjos.
Oh! Pai, que tá no Céu, fazei

De mim um grã instrumento
Pra que se cumpra Tua Vontade,
Que todos sinta a Graça
De vossa grã santidade,
Pra que teu povo si liberte
Da cruel bestialidade

Dos noss`algoz guvernante
Qu`invés de partí o pão
Tiram da noss`esfomeada
Boca, sem tê compaxão
Nem mesmo das criancinha
que morre neste sertão

Pela subnutrição.
A tapera que nóis vivia
Tav`em u`as terra devoluta
Que niguém por lá sabia
quem era o dono delas.
Porém, muit`anos fazia

Que eu e minha famia
Tava naquele lugá.
Voltano do cimitéro
Mi pus a dialogá
Co meu marido Juvená.
Tinh`eu que sempr`í buscá

Água bem longe de casa,
Que não tinha água perto
De nossa véia tapera.
Achô ele que o certo
Seria ele cava'um poço
Para nóis tê água perto

E eu não tê qu`í buscá
Ela longe da tapera.
Mas, aí, a água que deu
No poço, qu`ele cavô`era
Pasmem, tod`ocêis, petróleo!!!
Donde menos si ispera

- Como dizia meu papaizin`
- É que as coisa si sai...
Daí foi aquela luta
Aquele vai ou não vai
Pra nóis ganhá do guverno
A parte que calari os ai

De muitas criancinha pobre
Que morre de fome pruque
Não tem elas o que cumê.
Mas tão somente pruque
Nóis não tinha iscritura
E quem sabe também pruque

Achasse que nóis fosse matuto
Quisero`nos passá pra tráis,
Dizeno que nóis não tinha
Direito nenhum, qua aliáis
O que nóis tinh`er o de
Caí fora sem oiá pra tráis

Cas nossa mão abanano.
Lutam`e como lutamo!
No final daquela luta
Venceno nóis cabamo.
Todo aquele dinhero
Que ganhamo nóis usamo

Pra construí várias creche
Hospital e moradia
Pro meu povo sofredô
Que muito m`agradecia
Pruque nem mais u`a criança
Desnutrida lá morria