quinta-feira, 3 de junho de 2010

CONVERSA DE ADULTO

Eu nasci em uma época em que, como no dizer de Cora Coralina, criança não valia mesmo nada, ou quase isso... "Por dá cá aquela palha, ralhos e beliscões, quando não, uma boa tuda de cinta, que deixava mossas espalhadas pelo corpo inteiro". Havia a chatíssima conversa-de-adulto. a qual crianças não podiam em hipótese nem uma participar, sendo que, muita vez, elas estavam proibidas até mesmo de ouví-las.
Caso um garoto pulasse de "pára-quedas numa conversa, quando os pais dialogavam com outros adultos, apanhava defronte das visitas. Era um horro! Criança não podia ter vontade... Não podia ter querer... Na maioria dos lares, imperava aquela ramerrônica e hipócrita máxima tão em voga e posta em prática naqueles tempos em nome dos bons costumes, da moral e da ética - "Faça o que eu mando; mas não faça o que eu faço".

Pois bem, o mundo deu muitas voltas desde o tempo em que eu fui criança. Aconteceram muitas mudanças. Algumas, boas; outras, nem tanto. Hoje em dia, criança já não é tão recalcada mais pelos pais e educadores. Muitos genitores dialogam com os filhos, aceitam suas opiniões e até mesmo sujestões. Contudo, presenciei uma cena ontem à noite no coletivo, que me fez retroceder aos tempos de minha malfadada infância. Havia um garoto de aproximadamente 8 ou 9 anos, em companhia do pai dele. Eles iam descer no próximo ponto. O pai ergueu-se do acento, que era o anterior ao que fica perto da porta de desembarque:

- Venha, filho!

O menino levantou-se. Ele segurou nos ferros de ambos os extremos do corredor, ergueu os pés e apoiou-os nos planos elevados do assoalho, onde são fixados os bancos.

- Pára com isso, menino! Voce vai cair! - disse o pai, rispidamente.

O garoto obedeceu. Ele estava vestido com uma blusa, que tinha um capuz. O pai cobriu-lhe a cabeça com o capuz. O filho o tirou. O genitor novamente o recolocou à cabeçaz do pequerrucho:

-Não tira o capuz!

- Por quê, pai?

- Porque eu estou mandando!

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