terça-feira, 3 de novembro de 2009

GRAÇA REDENTORA

Depois que o meu paizin`
Foi lá par`o Beleléu
Lugar aquele que sei
Que é um cantin`do Céu
As coisa se complicaro
Ficaro amarga qual fel

Para a minha mamâezinha.
Daí, tev`ela que tirá
Eu da escolinha da fessora
Ineiz, pra mim ajudá
Ela trabaiá na roça.
E lá ia eu capiná

Trocano as brincadera
Ca minha linda bunequinha
De pano, que o papai dexô
Pra mim, pruque ele tinha
Um imens`amô por mim
Que mi fazia tão filizinha,

Pela dur`e rud`inxada.
Mas a mamãe s`abalava
Pra igreja no domigo
Consigo ela mi levava.
Lá, eu via o meu amiguin`
Do tempo qu`eu estudava.

N`escola todos mangava
Dele, pruque ele era
Defeituoso duma perna,
Zaroin`, mas é de vera
El`er`a pessoa mais pura
Que já vi na noss`isfera

Terrestre, meus bons amigo
Isso eu posso afirmá.
Veiz ou outr`em cas`el`ia
Para tentá m`insiná
As lição qu`el`aprendia
N`escola do nosso lugá.

Ah! meu Deus! como eu queria
Estudá e me formá
Sê também uma fessora.
Mas a vida m`era má.
Tinha que ced`acordá
Pra ì pra roça labutá.

E assim eu fui cresceno
Sem tê tempo de sê criança
Sem tê direito a sonhá...
Mas eu tinh`a esperança
Que a coisa ia mudá.
Um dia fomo numa dança

De quadria de São João.
Fiz par com meu amiguin`
Miguelin` e daçamo muito.
Depois sentam'um poquin`
Pra gente si discansá
Bateno um bom papin`.

Cunversa vai, cunversa vem
Foi quando ele me disse
Qu`ele quiria si casá
Cumigo quando crescesse.
Ele tomô minha mão.
Todo chei de meiguice

Mi bejô na minha face.
Diss`a ele qu`eu também
Quiria sê sua mulé
Chaman`ele de meu bem.
Mas Deus, que regi o destino
De nosssas vida, porém

Não permitiu que foss`assim.
Oh!tristeza! Tadin`! Miguelin`
Meu amiguin`,que`eu amava
Também foi pro Beleléu
Inda piquinin`, tão criança.
A caus`o dotô Lionel

Disse que foi a miseráve
Da brutá subnutrição
Que já levô tanta criança
Dest`ingrat`ermo sertão
Sem que ninguém faça nada
Pra miorá a situação.

Eu não aceitava isso.
Fiquei de mal com o Papai
Do Céu, que primero tinha
Levado meu amad papai;
Agora, meu bom Miguelin`.
Será qu`Ele não via os ai

Prantiados no escuro
Dessa sua fia sofredora
Que já não guentava mais
Sofrê com`uma pecadora
Que não merece perdão?
Mas sua graça redentora

Qu`iria mi confortá
Eu inda ia recebê.
Numa bunita prucissão
Que cês deve di sabê
Que acuntece na Semana
Santa, que a gente vê

Crianças e adultos vestido
Com roupa qui nem as d`anjo.
Pur tudo qu`é mais sagrado
Vi o São Miguel arcanjo
Com meu pai e Miguelin`
Iluminados qual anjo

No meio da prucissão.
Acenaro para mim
Jogando-mi mui beijin`s
Que virarô fulô de jasmim
Que mi vinham flutuano
E caíam sobre mim.

Desde aí, então, eu fiz
As paiz com o Supremo
Pois bem sei que mais tarde
Ou mais cedo nóis iremo
Todos está com Ele.
Daí, nóis não mais sofreremo.

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