quinta-feira, 22 de outubro de 2009

SONHOS DE UM NORDESTINO

Quando chove no sertão
Faiz gosto oiá pr`as prantação.
Mas quando a chuva não vem
xiquexique e mandacarú têm
força pra subrivivê naquelas parage.
É pur isso que viemo de viage
Tentá a vida cá na capitá
Onde todo mundo diz-qufácil ganhá
O pão do dia-a-dia.

Mas qui cidad`inorme
Ond`uma cambada de gente come e dorme
À custa dos milhares de trabaiadô
Sem nunca si sensibilizá cas sua .
Casa, não tenho pra morá.
É u`a situação pra qualqué um s`apavorá.
Tê que vivê ca minha famia
Dibaxo duma ponte fria
Ismolano o di cumê.

Mas o pió memo é iscutá
Gente grã-fina gritá
disaforo pr`eu e mi`a famia
E pra toda nordestinia
Que viero pra cá fugino
Da seca que causa disatino
Sem sabê que aqui também
Muita miséria tem
Cercada pelo progresso.

falá com franqueza
tem hora que mi dá vontade de mi embebedá
Durmí e nunca mais acordá
Só pra não continuá veno
Meus sete fio sofreno
E a mulé ismagreceno
Amamentano o piqueno.
Ah! que vida disgraçada
Que mi deixa ca morá dispedaçada

Qual uma vidraça quebrada.
Mas a sorte tá mudano...
Neste novo ano
Arrumei um emprego numa construção-civil.
Mas creio que ocê nunca viu
Cantero de obra mais fulero...
A falta de segurança é tal que me causa disespero
Quando cá di riba presto atenção
Na altura que nos separa do chão.

Agora, além do ganha pão
Já tenho um barraco pra morá ca mi`a famia
O qual parece que desafia
A lei da gravidade in riba do morro.
Súbito, precipita uma forte chuva sobre o morro.
Não dá nem tempo de gritá por socorro.
Tudo rolá morro abaixo num grande enchurro
Soterrano os sonhos de um nordestino
Que lutô tenazmente contra seu cruel destino.

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