sábado, 31 de outubro de 2009

O DIA QUE PAPAI FOI PRO BELELÉU

Há coisas que acontece
Nesta vida, que a gente
Nunca, nunca mais s`esquece.
Eu fui muito descontente
Para minha primer`aula.
Fiquei n`aula renitente

Quereno voltá pra casa.
Sim, porque até então
Eu não er`acostumada
Ficá longe d`atenção
Dos meus querido genitor.
Ah! como me foi tão bão

Quand`aula terminô.
Papai veio me buscá.
Quando lhe vi no portão
Na hora parei di chorá.
Corri par`os braço dele
Par`ele mi confortá.

Que carinh`essa, quirida
Cê parece que chorô?
Mi priguntô`ele surrino.
Eu fiz mesm`um chororô
Que o medo qu`eu sentia
Nhô n`é capaiz de supô.

Medo de quê, fiotinha?
De que o Nhô não viesse
Mais mi buscá, papaizinho!
Ora, fiinha, esquece
Isso que o papai jamais
Da sua fiinha esquece.

Ele mi feiz prometê
Que n`escola não iria
Mais ficá lá só chorano
Que eu mi esforçaria
Para aprendê tudinho
Que a mestra m`ensinaria

Que, quem sab`um dia eu
Também fessora seria.
Aos poco fui m`acostumano
Ca fessor`e ca gritaria
Dos aluno no recreio.
Eles todos sempre ria

Zomabano d`um garotinho
Qu`era meio zaroinho
Que mancava d`uma perna.
Por sê`ele diferentinho
Todos li maltratava tanto
qu`eu tinha dó, coitadinho!

Tava sempre jururu
sozinho no seu cantinho
Temeno sê molestado.
Aí, eu com muito jeitinho
Fui m`aproximano dele.
Nos tornamo amiguinho.

Daí, havi`um menino grande
Que com ele invocava
Chaman`ele de perneta
Cegueta e sempre dava
Vários cascudo nele.
Um dia quando a gente tava


Na hora do nosso lanche
No pátio da noss`escola
Ele pegô`a provocá
O coitado do Beiçola,
Que além de sê perneta,
Zaroio, não tinha n`escola

quem lá tivesse maió
Lábios do que os dele.
Pur isso colocaro
Esse apelido nele.
Eu nunca vi`os seu defeito
Pois muito gostava dele.

Tomei`as dô de meu amigo.
Dei um chute no Zelão
Que pegô bem na canela.
foi aquela gozação
dos aluno pra cima
Do safado do Zelão.

Daí, ninguém mais quis mexê
Com o meu bom amiguinho.
Um dia, no final da aula
Eu não vi meu papaizinho
M`esperano no portão.
Em seu lugá tav`um vizinho.

Fiquei mei`apreensiva.
Perguntei do meu paizinho.
Ele me disse que papai
Tava meio cansadinho.
Por isso que lhe pedira
Pra fazê o favozinho

De vim mi buscá n'escola.
Não creditei totalmente
No que ele me dissera.
Sabe quand`a gente sente
Aquel`aperto no peito
Que por mais ca gente tente

Dizê que tá tudo bem
A gente sabe que não
Está, que tem alg`errado?
Eu tin`essa sensação
Que aumentav`à medida
Que próximo do portão

De minha cas`eu chegava.
O vizinho convidô
Eu pra í na casa dele.
A mamãe mi avistô
Di dentro da nossa casa
Pelo vidro do vitrô.

Vi qu`ela tava chorano.
Fique`inda mais receosa.
O vizinho mi dizia
Que queria tê uma prosa
Comigo na casa dele.
Disse qu`eu não queria prosa

Queri`era vê meu paizinho.
Com mui jeit`entristecido
Deu-m`a infeliz notícia
Que papai tinha falecido.
Na hora meu coração quase
Que parô enfraquecido

Pelo choque da notícia.
Aí, mamãe veio tê
Cumigo, mi abraçô
Mi levô pr`eu vê
O corpo do meu paizinho.
Não conseguia mi contê

Ven`ele deitad`imóvel
Dento de uma grâ rede
Tod`enfeitado com flô.
Encostei-me na parede
Pus a chorá que nem loca.
Parecia que a parede

Etendia o meu sofrê,
Que me dizia que papai
Não havia falecido
que eu parasse cos meu ai
Que pro Beleléu tinh`el`ido
Pruque tudo pra lá vai

Que prezamo pra tá sempre
Bem cá do nosso ladinho.
Hoje, mais do que nunca sei
Que o imenso carinho
que sinto pela sua memória
Faiz qu`el`esteja vivinho

Pra sempre dentro de mim.
ah! paizinho! que saudade!
Um dia também irei
Pro Beleléu e a saudade
Que sinto d`ocê matarei
Pra sempre n`eternidade.

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